XANDE DE PILARES LANÇA SEU NOVO ÁLBUM, “NOS BRAÇOS DO POVO VOL. 1”. ASSISTA TAMBÉM A DOIS VÍDEOS DO PROJETO

“Vamos prestigiar o meu cumpádi QUÉRRICÔDE!”

Quem viu Xande de Pilares nas lives da pandemia (e quem não viu? Shows próprios, festas do Salgueiro, pagodes com os amigos… Onde chorou um cavaco, lá estava ele) viu um artista no auge, tão agregador e carismático que até o QR Code, ou Quick Responde Code, aquele código eletrônico usado para doações, ganhou o apelido e a patente de “cumpádi”. Pois este Xande é o que aparece no palco do KM de Vantagens Hall, no Rio, nas imagens do luxuoso DVD “Nos Braços do Povo”, feitas em novembro de 2019, em que cantor, banda e convidados comandam uma celebração e registram um sambista em estado de graça, oferecendo um repertório variado e poderoso, apimentado por sete canções inéditas e uma produção que leva Hollywood até o Salgueiro.

O hino “Tá escrito”, já gravado até por Caetano Veloso e seus filhos no disco ao vivo “Ofertório”, abre a festa, já emocionando e levando lágrimas ao povo do gargarejo, que sabe que é Deus que aponta a estrela que tem que brilhar. À vontade à frente da big band de 17 músicos, Xande estabelece o clima com “Perseverança” e “Tem que provar que merece” até cair nas homenagens às mulheres, primeiro com a constatação “Elas estão no controle” (“Hoje ninguém manda nelas / E o que seria sem elas?) e depois com um dos pontos altos do show.

Vou até abotoar o paletó pra cantar com ela” – diz ele ao receber Dona Maura, sua mãe (que mais parece irmã) em “Mãe”, um delicioso chamego em forma de samba.

Lágrimas enxugadas? O samba não para: depois de Dona Maura, Xande recebe os parças Tiee e Mumuzinho em “O X da questão”, abrindo a noite para os encontros e abraços – afinal, “pagode” não é um gênero musical, é um encontro onde se canta samba, e o astro conhece essa cartilha de A a Z. Sem medo de abrir o coração, ele apresenta a inédita “Brisa” (Alex Sereno, Rhuan André e Claudemir), mergulha no romantismo em “Meu pitel” (com a grafia marota mesmo) e “Tente me perdoar” (outra inédita) e agradece a seu público e amigos em mais uma nova, “Carreira solo” (André Renato e Rhuan André), um sambinha dolente com eflúvios de João Nogueira: “É pra você/ Essa energia, essa voz que sai de mim”, canta ele.

A parada fica séria com o próximo convidado: “Conheço o Cacique de Ramos desde 1984, tenho o maior respeito por essa geração”, diz ele ao receber o mestre Jorge Aragão em “Moleque atrevido”, ao som de cavaco, banjo e tantan. Jorge (esse e outros) e o tradicional bloco de Ramos ainda aparecem mais ao longo da noite. Depois de mais um momento romântico, com “Fã do amor da gente” e “A gente precisa um do outro” (mais uma nova), o Santo Guerreiro é invocado no encontro com André Renato, “Sou de Jorge”, uma oração levada no atabaque e nas cordas. Mas e o Cacique? Calma, ele vem aí: “Ah! Como eu amei” e “Coração radiante” derretem mais uma vez os músculos cardíacos, abrindo alas para a chegada de Sombrinha, em “É sempre assim”, que o compositor (um dos favoritos de Beth Carvalho) compôs com os parceiros Arlindo Cruz e Marquinho PQD, uma pérola de DNA caciquiano. O povo diz no pé e no gogó como se estivesse sob a tamarineira da Rua Uranos, é claro.

Quer saber o que Xande acha? “Eu não vou mentir pra quem confia em mim/ E nem confiar em quem mente pra mim” diz ele em “Minha opinião”, um delicioso samba inédito levado no pandeiro, com aquela mão direita (de Juan Anjos) caprichando no cavaco e um refrão cheio de “lererê”. Depois de agradecer (sempre!) com “Gratidão”, tem mais Jorge (Jorge Mário, vulgo Seu Jorge), com “A doida” e a participação do imperiano Pretinho da Serrinha (coautor da música, em parceria que tem ainda Leandro Fab). A noite esquenta, no miudinho, com a bem-humorada “Vara de família”, seguida por “Pão que alimenta” (e suas lembranças do início da carreira, em 1986, no Engenho da Rainha), antes da música que dá nome ao DVD: “Não existe melhor lugar que os braços do povo”, canta ele, no meio da galera, como em uma boa roda de samba.

No bloco final, o bicho pega, como está no regulamento, com uma sequência de sambas de autores como Mauro Diniz (“O dia se zangou”, com Ratinho, e participação de Marcelinho Moreira), Serginho Meriti (“Clareou”, com Rodrigo Leite), Riachão (“Cho chuá”) e o obrigatório Arlindo Cruz (“Virou religião” e “Samba de arerê”, com parceiros diversos, como o próprio Xande). O cumpádi Diogo Nogueira vem lembrar que “Deus é mais” e que o samba não tem hora para acabar. No meio de tudo, papo sério com o reggae “#Respeito já” (Xande/ Neném Chama). Respeite quem pôde chegar aonde Xande chegou.

Bernardo Araujo