Álbum traz hits e raridades da MPB em versões potencializadas para as pistas e ainda destaca a genialidade de Lincoln Olivetti, Marcos Valle e Roberto Menescal
“Uma coisa é música eletrônica. Outra coisa é usar a música eletrônica na música”. Com essa afirmação, DJ Meme, um dos mais reconhecidos e experientes profissionais brasileiros, traz de volta ao palco o seu “Clássicos Reboot Vol 2”, álbum que chega às plataformas digitais dia 4 de julho, via Universal Music Brasil, e joga mais luz a uma crescente tendência das pistas atualmente: Unir passado e futuro em um caminho de comprovado sucesso. O trabalho, continuação do “Volume 1”, lançado em 2022, potencializa e reverbera 10 canções nacionais icônicas – ou redescobertas por ele – em versões amplificadas e cirurgicamente remixadas para audiências separadas por décadas. E, numa virada de mestre, o disco homenageia por tabela o mestre Lincoln Olivetti, com remixes que ampliam seus arranjos originais e agigantam sua verve criadora. “Esse é o grande desafio e também o mais importante num remix. Usar a voz original do artista e mudar toda a música é fácil, mas trazer uma novidade consistente e que agrade o público usando tudo o que já estava gravado é o mais difícil. Porque as pessoas estão acostumadas ao original e vão reclamar se aquele remix não tiver sensibilidade e criatividade”, afirma ele.
Neste quesito, Meme dá um show à parte e sublinha arranjos, cria novas atmosferas e dá um brilho particular a gravações como “Lábios de Mel” (Tim Maia), “Vida Vida” (Ney Matogrosso), “Mentira” (Marcos Valle), “De Bar em Bar” (Cassiano), “Alagados” (Os Paralamas do Sucesso) e a outras canções lançadas em uma première do álbum, no ano passado (“Clássicos Reboot Vol. 2 Lado A”), como “Azul” (Gal Costa), “Maresia” (Marina Lima), “Malandragem” (Cássia Eller) e “Bye Bye Brasil” (Chico Buarque). “O que eu faço é fortificar o arranjo, a voz e os instrumentos com uma tecnologia sofisticada de mais de 40 anos depois. O som cresce, fica robusto, mais bonito. O remix ganha vida no detalhe, estendendo um tempo, reforçando os solos, inserindo o duplicando algo etc. Às vezes incluo uma batida eletrônica aqui e ali, mas tudo sem perder o arranjo original, que é lindo”, explica o DJ e produtor, que mergulhou no acervo da Universal Music e escolheu minuciosamente as canções que iria trabalhar.
É com esse “whey protein nos instrumentos” e uma injetada de “creatina nos músculos dos baixos”, como brinca o criador, que a música original cresce, salta e reverbera nas pistas. As duas primeiras faixas do álbum, “Lábios de Mel”, de Tim Maia (Reencontro / 1979) e “Vida Vida”, de Ney Matogrosso (1981), somadas a “De Bar em Bar”, de Cassiano (Cuban Soul: 18 Kilates / 1976), destacam a contribuição inovadora de Lincoln Olivetti na MPB no final dos anos 70 e início dos 80. “Ele revolucionou a música pop no Brasil porque trouxe uma sonoridade internacional. Elas tinham uma pegada de pista, apesar de não serem eletrônicas”, conta Meme. Em seus sets, o público, seja qual for a idade, dança e canta enlouquecidamente em refrões escondidos na memória e que ganham sentido com a “nova roupa” do remix.
Outro ícone brasileiro aclamado mundialmente, Marcos Valle não só recebeu um reboot em seu hit “Mentira” (Previsão do Tempo / 1973), como também voltou ao estúdio para gravar um novo piano especialmente para o “Celebration Remix”, como a nova versão foi batizada. Meme trabalhou em cada instrumento – lembrando que os músicos da gravação original são, nada mais nada menos, que a banda Azymuth – e incluiu o novo solo de Marcos Valle no meio da faixa. “Imagina os caras aos 30 anos de idade, mandando ver, tirando o sangue dos dedos. E 50 anos depois, Marcos reencontra a música e coloca um novo som. É um sonho reconstruir e potencializar isso”, derrama-se ele.
A presença destes artistas indicam uma tendência já apontada por Meme há alguns anos: O crescente números de ‘DJs curadores’, jovens que dedicam parte de seu tempo garimpando pérolas do cancioneiro nacional em vinil para remixá-las em festas, clubs, listening bares e festivais ao redor do mundo. Uma cultura que tirou o holofote da música eletrônica convencional e vem conquistando cada vez mais apaixonados por músicas e pistas. “Muitas destas canções dos dois volumes do ‘Clássicos Reboot’ não tiveram expressividade na época de seus lançamentos e hoje têm muito valor porque essa nova geração foi atrás. A anterior não queria nem saber disso, era tudo muito eletrônico, eletrônico, eletrônico. Ou seja, são momentos diferentes de uma era”, explica Meme.
Outra canção que transcende as caixas de som neste álbum é “Alagados” (Os Paralamas do Sucesso), que teve sua veia afro-latina elevada à potência, reforçando a virada sonora da banda do rock para o reggae em “Selvagem” (1986). O empolgante e explosivo remix de Meme tem tudo para virar um novo clássico nas próximas décadas. Nesta faixa em especial, o DJ sentiu que a música pedia algo mais, e incluiu alguns beats e uma bateria eletrônica “dobrando” com a gravação de João Barone. “A música ganhou uma nova vida. No meio tem uma sandice eletrônica que deságua de novo na original, uma explosão de sons com quase 9 minutos de duração. Criamos uma terceira via de sonoridade pra esse clássico”, vibra ele.
A cereja do bolo desta faixa é o “up” na participação de Gilberto Gil. Se antes ele somava apenas nos backing vocals da canção original, agora o artista é “apresentado” por Herbert Vianna no início da música e canta sozinho o primeiro refrão. “Dei uma evidenciada no Gil, isolei e valorizei sua voz; adorei o resultado”, afirma Meme. As vibes percussivas se reencontram em “A Gira”, do Trio Ternura, um dos maiores grupos vocais negros do Brasil entre os anos 60 e 70 e amplamente sampleado no mundo. Nesta faixa, ele manteve o coração original, incluiu uma bateria e regravou o baixo. “Mudei os acordes e a levei pra outra estação, para outro planeta”, brinca.
O “Clássicos Reboot Vol. 2” traz mais duas músicas com um trabalho mais profundo no eletrônico: “Malandragem”, na qual Meme recriou os arranjos, regravou todos os instrumentos e ainda contou com a participação especial de Frejat na guitarra e voz. Pela primeira vez há um registro dele e Cássia Eller juntos na canção. “A faixa ganhou um beat disco, discotheque. É inteiramente nova, não tem nada da original, só a voz da Cássia”, conta o DJ. Já “Maresia” (Marina) recebeu um arranjo completamente diferente, levando a canção para um house underground. “Programei a bateria, fiz uma linha de baixo, teclado, colocamos flauta, cordas, um solo de órgão, foi uma superprodução musical numa onda totalmente pista mesmo”, detalha ele.
O álbum fecha com a inesquecível “Azul” , de Djavan, na voz de Gal Costa, clássico certeiro e momento alto das pistas onde o DJ a apresenta e “Bye Bye Brasil”, de Chico Buarque. “Sou louco nessa música desde a primeira vez que ouvi. E ao mergulhar em suas partes senti a onda dos bailes funk dos anos 80, testei a voz do Chico e encaixou perfeitamente. Sucesso total”, conta ele. O funk de Meme deu match com a mensagem brasileira e a levada de bolero da canção, e ganhou até elogios de Roberto Menescal. “Ele me mandou uma mensagem muito bonitinha dizendo que dei um vigor à música deles, fiquei muito feliz”.
E é assim que DJ Meme se sente agora: Muito feliz com o lançamento na íntegra de seu álbum “Clássicos Reboot Vol. 2”. Um menu musical cuidadosamente concebido com ingredientes selecionados, especiarias exclusivas e altas doses de satisfação. Aumentem o som e deixem essas novas delícias nacionais darem um reboot nas suas pistas, festas, bares, pubs e playlists! A diversão está garantida e – sim – com ótimas músicas em versões eletrônicas! ; )