Em edição limitada, box comemora os 50 anos do “Fruto Proibido” de Rita Lee

Caixa vem com LP, compacto, foto e encarte especial

Por Guilherme Samora*

Um dos discos mais importantes da música, “Fruto Proibido”, de Rita Lee & Tutti Frutti, completou 50 anos em 2025. Para celebrar a data, a Universal Music Brasil lança um box de luxo, em edição limitada, que já está em pré-venda na UMusic Store. A caixa vem com o disco em sua arte original, em vinil roxo marmorizado, o raro compacto de 1976, uma foto de Rita na turnê do álbum e um encarte com texto escrito por Guilherme Samora. Saiba mais aqui: https://www.umusicstore.com/rita-lee .

O álbum marcou a estreia de Rita na Som Livre, depois de uma passagem tumultuada pela Philips, quando teve um projeto inteiro vetado e acabou lançando apenas um LP: “Atrás do Porto Tem uma Cidade” (1974).

Rita fez a direção musical do álbum em uma casa emprestada à beira da represa em Ibiúna, onde morou por alguns meses com os integrantes da banda — e com suas duas cobras — para ensaiar. O inglês Andy Mills, ex-técnico de som de Alice Cooper, também morava com eles e pilotou a produção do disco. A gravação foi realizada no estúdio Eldorado, na rua Major Quedinho, centro de São Paulo.

“Dance, dance, dance / Gaste um tempo comigo / Não, não tenha juízo / Dê-se ao luxo de estar sendo fútil agora.” É assim que Rita abre o disco e convida o público a experimentar seu “Fruto Proibido”. O LP, ousadíssimo e cheio de temas femininos, é um claro recado à turma que repetia para ela que “para fazer rock tem que ter ‘culhão’”.

Rita assina todas as composições, metade delas sozinha. E, pela primeira vez, músicas da roqueira em parceria com Paulo Coelho foram gravadas. O blues dolorido “Cartão Postal” é um lado B que virou clássico e está entre os favoritos dos fãs. “O Toque”, esotérica-cósmica-viajante, traz Rita cantando que “o universo segue o rumo que todos nós escolhemos”. Porém, foi “Esse Tal de Roque Enrow” — e a história de uma mãe falando ao psiquiatra sobre a obsessão da filha com aquele tal de Roque — que conquistou a garotada, as rádios e a TV. A música fez parte da trilha sonora da novela “Bravo!”, da Rede Globo, ao lado de “Agora Só Falta Você” — hit com um claro convite à liberdade, parceria de Rita com Luiz Carlini. Duas de uma vez só!

Boa parte do rock brasileiro, na época, apontava para o progressivo. Rita, livre como sempre, flertava com o glam, com o classic rock, com o blues, com as guitarras, com os violões acústicos e com o minimoog. Inclusive, o sintetizador ganha lugar de destaque na foto da capa de “Fruto Proibido”, com a ruiva bela e esvoaçante na sala de jantar da casa dos pais, na Vila Mariana — tudo em frente à penteadeira da avó, herdada pela mãe e depois por Rita.

A qualidade das composições e da gravação, o brilho da voz de Rita e a rebeldia irreverente da maior roqueira brasileira conseguiram a proeza de colocar o underground na lista dos mais vendidos. “Comer um fruto que é proibido / Você não acha irresistível?”, ecoa Rita, num vocal urgente, desafiador, vivo, impossível de se tentar alcançar. Isso em plena ditadura militar. “Pirataria”, de Rita e Lee Marcucci, baixista da banda e que seguiria com a roqueira por anos, é outra ousadia contra censores, censuras e contra o establishment: “Quem falou que não pode ser? / Não, não, não / Eu não sei por quê / Eu posso tudo, tudo.”

E é em “Luz del Fuego”, a penúltima faixa do disco, que Rita se apresenta, brinca com o que pensam sobre ela e reafirma a mulher que é. Doa a quem doer. Alegre a quem alegrar: “Eu hoje represento a loucura / Mais o que você quiser / Tudo que você vê sair da boca / De uma grande mulher / Porém, louca!”.

Dando o tom do começo ao fim, a rebeldia da estrela dos cabelos vermelhos termina o disco da maneira mais impactante possível, com “Ovelha Negra”. O maior hino aos diferentes é também o maior hit do álbum. Chegou ao topo entre as mais tocadas das rádios naquele ano e virou clipe no Fantástico.

Ao experimentar o primeiro grande sucesso de público, Rita segue com o Tutti Frutti em turnê, com ingressos esgotados pelo Brasil todo. Com a inesperada repercussão, a gravadora decidiu lançar “Ovelha Negra” em compacto. Rita, então, voltou ao estúdio com o Tutti Frutti para gravar três novas — e geniais — músicas: “Lá Vou Eu”, “Caçador de Aventuras” e “Status”. Hoje raro, o compacto é reeditado pela primeira vez para esse box, com a capa original. E com um detalhe que o torna ainda mais especial: para celebrar a data e manter a qualidade das canções, o compacto vem com dois disquinhos, um vermelho translúcido esfumaçado e outro marfim opaco. O primeiro traz “Lá Vou Eu” no lado 1 e “Caçador de Aventuras” no lado 2. O segundo, “Status” no lado 1 e “Ovelha Negra” no lado 2.

Um lançamento à altura do disco que mudaria para sempre o rock brasileiro e coroaria, de vez, a sua estrela maior: Rita Lee.

*Guilherme Samora é jornalista, editor e estudioso do legado cultural de Rita Lee.